terça-feira, 12 de agosto de 2014

Necessidades




   
- Doutor, estou me despedindo do senhor e agradecendo a companhia desses últimos meses. O que não disse a respeito das pessoas e dos seus relacionamentos me fizeram um enorme sentido quando passei a viver do que quase foi escrito. Acredita, doutor? Por que raios meus óculos não funcionam quando necessito enxergar sem o meu coração?

- Pasmem, James! Talvez você precise daquelas pílulas que te receitei semana passada, ou trocar o seu relógio por um daqueles que não marquem por batimento cardíaco.

- Talvez, doutor. Acontece que tenho escutado tantas histórias lá na minha rua que penso que os numerosos conceitos sobre a cura humana e suas felicidades estão me medicando contra toda a sombra da saudade e a solidão que invento.

- O que você sente, James, quando resolve olhar com os ouvidos?

- Escute bem, doutor, porque posso me esquecer dessa receita quando me apaixonar de forma enganosa. Conheci uma senhora que dizia saber o que era o amor e qual a sua função nesta vida. Ela sussurrou, como se esse fosse um segredo que só se pode revelar a quem lhe rouba as horas, sem você cobrar por isso. Levantando o seu indicador e espremendo os olhos, ela afirmou: “James, não se torture tanto pelas cobranças do coração e pelo amor não sentido. Amar é como se houvesse um roteiro escrito por improviso, é como se cativar fosse tão simples e puro que não requer treino algum, apenas a vivência.

- Não pude entendê-la apenas com essa resposta, doutor. Tirei minhas dúvidas ali mesmo: “É igual ser feliz quando se é criança?” - Questionei. “É muito melhor, garoto!”– Respondeu a senhora. “A felicidade daquele que ama, e sabe o que é o amor, não vem só dos olhos, vem da alma, do desejo de quem escolhe adotar os defeitos alheios sem a simples inocência de uma criança, que julga feliz por não saber o que é tristeza” – concluiu assim o seu pensamento.

- Meu caro James, imagino que você esteja aprendendo mais com os outros do que com você mesmo.

- Não sei doutor, mas acredito que quando se é dois, torna-se muitos e estes muitos vivem apenas por um, o outro. É o pouco que se torna necessário e transborda.

- Espero que finalmente você consiga compreendendo a importância de ser natural, James. Essa senhora certamente tem muita a te ensinar sobre os sentimentos e o autocontrole.


- Talvez um dia, doutor. Essa curiosidade se perpetuará daqui pra frente. Ela morrera de amor semana passada. Dizem os vizinhos que a pobre não suportou encher a barriga só de conselhos. O que acha Doutor?  Doutor? 

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